desconstruindo os intervalos na TV por assinatura (ou: “por que esses intervalos existem em primeiro lugar?”)


a Anatel está pensando em impor aos canais a cabo/satélite o mesmo limite de publicidade dos canais abertos: 25% da sua programação (ou 15 minutos por hora, em média). à primeira vista, uma boa ideia. porém, ainda tem gente que quer acabar com os comerciais nos canais nessas plataformas, uma vez que dizem que “se é por assinatura, não devia ter comerciais”. acontece que isso não funciona bem assim como eles pensam.

não sei se vocês sabem, mas existem dois modelos principais de canais a cabo/satélite/fibra/o que for:
canais básicos: ao contrário do que você pode pensar, não são aqueles que estão no pacote que tem menos canais da sua operadora, mas aqueles que fazem parte de um pacote qualquer dessa operadora e são financiados não apenas pelo que a operadora paga por assinante para ter esses canais na sua infraestrutura, mas também por publicidade. ainda assim, existem alguns canais básicos que não têm comerciais, como o canal Nick Jr. e (até algum tempo atrás) o TCM.
canais premium: aqueles que são cobrados à parte, como a HBO, a Rede Telecine, os canais pornô, o Combate e o PFC Premiere FC. na teoria, eles são financiados apenas pelas assinaturas e não têm comerciais. mas na prática, como o número de clientes de TV por assinatura ainda é pequeno no Brasil, esses canais têm comerciais para fechar as contas, porém em um número reduzido em comparação com a maioria dos canais básicos.

o outro motivo pelo qual muitas pessoas rejeitam comerciais no cabo/satélite/whatever, além de não estarem disponíveis no sinal aberto, são os abusos cometidos por alguns canais, como a Warner, que coloca uma hora (ou mais) de comerciais durante seus filmes (que, ao contrário da TNT, que também é, de certa forma, culpada disso, exibe seus filmes na íntegra, em sua versão de cinema). aqui no Brasil, estamos acostumados a ver filmes na TV aberta com apenas quatro intervalos (mesmo que a Globo exiba as versões de TV dos filmes, editadas não pela Globo, mas pelos estúdios). (obs.: eu não sei qual a frequência e duração dos intervalos nos filmes de canais básicos no exterior)
porém um outro motivo dessa rejeição talvez seja a frequência dos intervalos. a mesma Warner exibe suas séries com o mesmo número de intervalos que os canais de origem nos EUA. porém esses intervalos são mais curtos que os normalmente vistos na TV aberta brasileira no horário nobre (e bem mais curtos que os intervalos da RedeTV!), e têm a mesma duração média de um intervalo do Jornal Nacional. enquanto isso, a FOX e o Universal Channel costumam abrir mão de dois intervalos nas suas séries de uma hora, e para compensar isso, esticam os intervalos restantes. já o Glitz* tira um intervalo de Gossip Girl, porque o canal tem intervalos entre os programas, ao contrário de muitos canais (inclusive da própria Turner, divisão da Time Warner que controla o canal), que vão direto de um programa para o outro.
e o excesso de chamadas que muitos de vocês também reclamam nos canais? é justamente pela falta de anunciantes nos intervalos desses canais. compare um intervalo do canal no horário nobre com um intervalo fora do horário nobre pra você ver a diferença.

e vocês ainda vão dizer: “mas o Canadá e vários países da Europa já limitam os comerciais por hora!”. e, de fato, fazem isso. mas é para proteger as suas TVs públicas (que lá, concorrem em pé de igualdade com as TVs privadas), que ou têm intervalos ainda mais limitados (nos casos do Canadá, Portugal, França e Alemanha – nesses dois últimos países, a programação das TVs públicas não tem comerciais depois das 20:00), ou simplesmente não têm comerciais (como no Reino Unido, Espanha e países da Escandinávia), financiadas pela União, por uma taxa cobrada das TVs privadas e/ou por uma taxa cobrada anualmente de quem tem pelo menos uma TV (ou qualquer dispositivo que pode receber os serviços da radiodifusora pública) em casa – o pesadelo das pessoas que têm seus Tweets publicados no Classe Média Sofre.

ainda temos outro fator para essa rejeição: os infomerciais (aqui no Brasil, mais especificamente, os da Polishop). tenho uma coisa pra dizer pra vocês: infomerciais existem em canais por assinatura básicos em quase todo o mundo. muitos canais fecham as contas vendendo espaços para eles nos horários de baixa audiência (como as madrugadas e o começo das manhãs), ou você acha que eles iriam fazer como a Band, que vende 25-30 minutos (mas já foram mais) do horário nobre pro R. R. Soares? e eles também estão presentes, em versões mais curtas, nos intervalos dos programas (porque, em vários canais, esses espaços são mais baratos). e o Brainstorm9 inclusive fez um post falando sobre comerciais desse tipo com famosos (ou ex-famosos) nos EUA.

é bom pensar em todos esses fatores e em algo que satisfaça TVs, anunciantes e telespectadores. pra mim, o negócio é a Warner ter bom-senso e pegar leve no número de intervalos dos filmes, só pelo costume daqui mesmo.

#prontofalei

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